
Sexo ainda é fundamental
reportagem publicada no jornal A Cidade no caderno de Cultura do dia 30 de novembro
O psicanalista Renato Mezan é uma referência mundial quando o assunto é a obra de Sigmund Freud. É autor de livros como “Freud, Pensador da Cultura” e muitos outros. Hoje e amanhã, Renato ministra as palestras “Psicanálise, Cultura e Sociedade” “Percursos na História da Psicanálise”, respectivamente. O evento é organizado pelo Núcleo Távola. Confira a seguir a entrevista que Renato Mezan concedeu por telefone.
A Cidade – Qual a importância da psicanálise nos dias atuais?
Renato Mezan - De maneira sintética, é possível dizer que a psicanálise interessa pelo aspecto inconsciente dos fenômenos e também pela dimensão pulsional e instintiva daquilo que escapa a razão. Na medida em que as pessoas vão se tornando reféns de processos que as determinam, que as controlam, sem que elas percebam.
A Cidade - Quais fenômenos atuais que atraem mais a psicanálise?
Mezan - A questão da violência e da alienação. A questão das chamadas novas patologias ligadas à vida contemporânea, como a anorexia e depressão.
A Cidade - Como o senhor avalia as críticas a psicanálise, principalmente com o progresso da psicofarmacologia?
Mezan - Eu não tenho nada contra a psicofarmacologia. Os psicofarmos são utilíssimos. São remédios tão necessários quanto remédios para a pressão alta e diabetes. Só que eles trabalham em um nível que não é psíquico. É um nível orgânico, biológico. Controlam a taxa de determinadas substâncias no organismo. Então, quando é necessário uma pessoa tomar um antidepressivo ou um ansiolítico, ela deve fazer isso, por recomendação feita por um médico, não por um analista.
A Cidade - E qual seria o papel do analista?
Mezan - É como alguém que quer emagrecer e pode tomar um remédio, mas também precisa reeducar sua vida alimentar ou fazer exercício. A psicanálise entraria mais no ponto de vista da reeducação alimentar. Tem gente que pode fazer uma análise, passar dez anos no divã e nunca tomar um ansiolítico ou remédio para dormir. Outras não. Nesse caso, recomendamos que a pessoa veja um médico, um psiquiatra.
A Cidade – Como a sexualidade está inserida hoje na psicanálise?
Mezan - Continua sendo tão importante quanto sempre foi. Tem muitas situações que a problemática sexual não é determinante para aquela condição patológica. Em outros transtornos psíquicos, a sexualidade tem um papel extremamente relevante que começa em situações mais evidentes, como a frigidez e a impotência e outras características menos evidentes, como histerias, fobias e outras ansiedades comuns. Para a psicanálise, a sexualidade continua tendo uma importância fundamental.
A Cidade – Amanhã, o senhor fala sobre “Percursos na História da Psicanálise”. Quais os pontos principais?
Mezan - A psicanálise, muitas vezes, é tomada como sendo o pensamento de Freud, mas Freud morreu em 1939. Quase todos os psicanalistas que existem hoje não tinham nem nascido. A psicanálise avançou em diferentes frentes, com novas situações psíquicas, como anorexia, tratamento de adolescentes e psicanálise de crianças. Os psicanalistas passaram a trabalhar em hospitais.
A Cidade – Qual a importância de Freud nos dias de hoje?
Mezan - Na psicanálise a influência é maior. Newton e Einstein, por exemplo, são fundamentais para a física, mas você não estuda física lendo os livros de ambos. Eles não têm a mesma função de interlocutor que tem Freud para os psicanalistas de todas as gerações. Freud sempre pensou muitas coisas que não chegou a desenvolver. Freud teve diversos “germes” de idéias que sugerem variadas linhas de pesquisa, que ele mesmo não chegou a tomar e que servem de ponto de partida para muitos estudos.
LUCAS ARANTES
Especial para A Cidade
